Olá, pessoal.
Gostaria de propor a seguinte reflexão e ver o que pensam: "há alguma verdade em dizer que a interface de texto é mais difícil que a interface gráfica?"
Explicando a motivação para essa pergunta, eu tive meus primeiros contatos com computadores já usando uma interface gráfica. Naturalmente, conheci primeiro as interações via movimentos de mouse, abertura/fechamento de janelas, checkbox, botões de rádio, campos de texto, botões e diversas convenções que costumamos tratar como algo normal em interfaces gráficas. Só bem depois fui ter contato com interfaces de texto, inicialmente com um grande estranhamento. Hoje uso interfaces de texto na maior parte do tempo.
Conversando com algumas pessoas que iniciaram na computação pelas interfaces de texto, algumas delas relataram uma experiência oposta, ou seja, por já estarem habituadas aos comandos e convenções comuns nas interfaces textuais, estranharam bastante o uso de uma interface gráfica. Será então que não é uma questão mais de hábito que de uma facilidade/dificuldade intrínseca?
Pode-se alegar que na interface de texto é necessário memorizar comandos. Mas no gráfico, é necessário memorizar menus, ações de ponteiros, áreas que são clicáveis ou não, tipos diferentes de janelas, e conjuntos de diferentes ações. No fim, sempre temos que memorizar alguma coisa.
E o que dizer de usuários cegos? Será que faz algum sentido falar em interface gráfica?
O mito da interface de texto difícil
O mito da interface de texto difícil
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Re: O mito da interface de texto difícil
Explorando um pouco mais sobre esse tema, começo falando sobre o último ponto: interface gráfica para cegos.
Em conversa com um desenvolvedor cego, tive a impressão de que sim (faz sentido), mas só até certo ponto. O motivo de um cego aprender sobre interface gráfica (especialmente sendo desenvolvedor) é o fato de que se uma aplicação é gráfica, e outros usuários vão fazer uso gráfico, ter uma interface de texto separada para ela, só para usuários cegos tornaria mais difícil depurar problemas dependendo de qual interface fosse utilizada.
Portanto, o motivo do aprendizado nesse caso é mais por causa dos outros do que por ele mesmo.
Há uns dias li um artigo interessante sobre isso, falando sobre as limitações de acessibilidade em sistemas UNIX(-like).
https://latex.tilde.institute/articles/a11y.xhtml
Ao fim ele enaltece a interface de texto, como uma opção mais viável e prática, especialmente fazendo uso do BRLTTY (que teve um bom funcionamento com dispositivos de braile, que infelizmente são muito caros).
Li um artigo também que comenta sobre os desafios que a interface de texto pode apresentar para esse público, especialmente quando se lida com texto não estruturado:
https://dl.acm.org/doi/fullHtml/10.1145/3411764.3445544
Em conversa com um desenvolvedor cego, tive a impressão de que sim (faz sentido), mas só até certo ponto. O motivo de um cego aprender sobre interface gráfica (especialmente sendo desenvolvedor) é o fato de que se uma aplicação é gráfica, e outros usuários vão fazer uso gráfico, ter uma interface de texto separada para ela, só para usuários cegos tornaria mais difícil depurar problemas dependendo de qual interface fosse utilizada.
Portanto, o motivo do aprendizado nesse caso é mais por causa dos outros do que por ele mesmo.
Há uns dias li um artigo interessante sobre isso, falando sobre as limitações de acessibilidade em sistemas UNIX(-like).
https://latex.tilde.institute/articles/a11y.xhtml
Ao fim ele enaltece a interface de texto, como uma opção mais viável e prática, especialmente fazendo uso do BRLTTY (que teve um bom funcionamento com dispositivos de braile, que infelizmente são muito caros).
Li um artigo também que comenta sobre os desafios que a interface de texto pode apresentar para esse público, especialmente quando se lida com texto não estruturado:
https://dl.acm.org/doi/fullHtml/10.1145/3411764.3445544
Editado pela última vez por hrcerq em Sáb Out 05, 2024 9:12 pm, em um total de 1 vez.
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Re: O mito da interface de texto difícil
Além de questões de acessibilidade, temos também questões de internacionalização para pensar. Um argumento que poderia ir em desfavor da interface de texto seria o fato de que geralmente essas interfaces não são traduzidas.
De fato, geralmente não são, mas podem ser. E mesmo que não sejam, será que realmente memorizar os comandos por causa do idioma é o problema? De fato, se você não domina o inglês, alguns comandos podem parecer menos intuitivos em primeiro momento. Mas isso não inviabiliza o aprendizado.
Quando comecei a usar os computadores, eu ainda não tinha domínio de inglês, mas era possível memorizar os efeitos de botões como "start", "next" e "quit", por exemplo, mesmo sem saber as traduções dessas palavras.
De fato, geralmente não são, mas podem ser. E mesmo que não sejam, será que realmente memorizar os comandos por causa do idioma é o problema? De fato, se você não domina o inglês, alguns comandos podem parecer menos intuitivos em primeiro momento. Mas isso não inviabiliza o aprendizado.
Quando comecei a usar os computadores, eu ainda não tinha domínio de inglês, mas era possível memorizar os efeitos de botões como "start", "next" e "quit", por exemplo, mesmo sem saber as traduções dessas palavras.
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Re: O mito da interface de texto difícil
E ainda mais um ponto para botar mais lenha nessa fogueira: será que muitas vezes a aversão à interface de texto não está relacionada a aspectos estéticos? Explico: será que muitas vezes o problema não está na interface de texto usada? Em cores de fonte e fundo, tipo de fonte, formato das letras, resolução do texto, quantidade de caracteres por linha, etc?
Porque afinal, o conforto que esperamos ter ao olhar para uma tela de terminal é uma parte fundamental da experiência na interface de texto. Mesmo em sistemas UNIX(-like) onde a interface primária e principal é textual, podemos nos deparar muitas vezes com terminais bem "feios", com padrões de cores ultra simplórios e fontes ilegíveis, e a partir disso concluir que a interface textual é ruim. Nesse caso a culpa não seria do tipo de interface, propriamente, mas é o que pode parecer em primeiro momento.
Porque afinal, o conforto que esperamos ter ao olhar para uma tela de terminal é uma parte fundamental da experiência na interface de texto. Mesmo em sistemas UNIX(-like) onde a interface primária e principal é textual, podemos nos deparar muitas vezes com terminais bem "feios", com padrões de cores ultra simplórios e fontes ilegíveis, e a partir disso concluir que a interface textual é ruim. Nesse caso a culpa não seria do tipo de interface, propriamente, mas é o que pode parecer em primeiro momento.
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