Perl e a programação pós-moderna
Enviado: Qui Out 31, 2024 2:10 am
Estava hoje lendo um texto (na realidade, a transcrição de uma apresentação) de Larry Wall, autor da linguagem Perl. O texto foi escrito em 1999, e portanto expressa um sentimento que existia na pré-virada do milênio.
Perl, the first postmodern computer language
É um texto longo e tortuoso, então se for uma pessoa impaciente e que não gosta desse tipo de leitura, contente-se com o que direi a seguir.
Esse texto me ajudou a entender o que me incomoda no termo "moderno", especialmente quando usado no contexto da computação.
O moderno é aquilo que se recusa a ser considerado "do passado", aquilo que se recusa a morrer ou ser substituído, ainda que por uma versão aprimorada. O moderno é aquilo que julgamos ser o de agora, o mais recente, o que está valendo.
O problema é que o tempo passa, e o moderno fica velho, possivelmente antiquado. Faria sentido continuar usando o termo moderno? De acordo com a linha de raciocínio exposta no texto, sim, pois é sobre o modo de pensar a modernidade: aquilo que não morrerá nem será substituído.
Ironicamente, o pós-moderno aceita essa condição e surge não para matar ou substituir a modernidade, mas sim para aprender com ela e de certo modo, retocá-la.
Mas retocar o moderno é para os modernistas um insulto. Se o moderno é insubstituível, então ele é "irretocável", não pode ser questionado, ele é em muitos sentidos um modo dogmático de pensar e agir.
Aí está meu incômodo com esse conceito de moderno. Uma arrogância, uma não aceitação de que possa haver outras formas de existir e pensar. Para mim, a pluralidade é enriquecedora, e com ela podemos aprender muito mais do que em uma cultura uniformizada.
Portanto a programação moderna é aquela na qual só há um modo de fazer as coisas. Ao menos, só um modo esperado de fazer, e se você propõe alternativas pode se tornar mal quisto em grupos que aderem a essa forma de pensar.
É por isso que de certa maneira eu tenho a percepção de Perl como uma linguagem humanista, uma linguagem que te permite se expressar artisticamente, ainda que o resultado não seja o que os outros esperam.
Como diz Wall no texto, o foco da pós-modernidade está no autor, não na obra, o que não quer dizer que a obra não seja importante. Apenas quer dizer que o valor da obra está no modo como o autor escolhe se expressar.
Eu costumava dizer que a escolha de uma linguagem de programação para uso em algum projeto deveria ser guiada pelo tipo de problema a ser resolvido. Ainda acredito nesse fator, mas hoje penso haver um segundo fator até mais importante: a relação que você enquanto programador desenvolve com a linguagem.
Ou seja, mais importante que a tecnologia em si, que é igual para todos, é o modo como você percebe essa tecnologia e pensa o que pode fazer dela. Isso é único e pessoal, e é o ponto de partida para a escolha a ser feita.
Em resumo, vivemos um período curioso no qual temos um embate entre as duas formas de pensar, e isto é paradoxal pois uma se coloca como "a única que pode existir" e outra como a que pode coexistir até mesmo com a única que pode existir.
Perl, the first postmodern computer language
É um texto longo e tortuoso, então se for uma pessoa impaciente e que não gosta desse tipo de leitura, contente-se com o que direi a seguir.
Esse texto me ajudou a entender o que me incomoda no termo "moderno", especialmente quando usado no contexto da computação.
O moderno é aquilo que se recusa a ser considerado "do passado", aquilo que se recusa a morrer ou ser substituído, ainda que por uma versão aprimorada. O moderno é aquilo que julgamos ser o de agora, o mais recente, o que está valendo.
O problema é que o tempo passa, e o moderno fica velho, possivelmente antiquado. Faria sentido continuar usando o termo moderno? De acordo com a linha de raciocínio exposta no texto, sim, pois é sobre o modo de pensar a modernidade: aquilo que não morrerá nem será substituído.
Ironicamente, o pós-moderno aceita essa condição e surge não para matar ou substituir a modernidade, mas sim para aprender com ela e de certo modo, retocá-la.
Mas retocar o moderno é para os modernistas um insulto. Se o moderno é insubstituível, então ele é "irretocável", não pode ser questionado, ele é em muitos sentidos um modo dogmático de pensar e agir.
Aí está meu incômodo com esse conceito de moderno. Uma arrogância, uma não aceitação de que possa haver outras formas de existir e pensar. Para mim, a pluralidade é enriquecedora, e com ela podemos aprender muito mais do que em uma cultura uniformizada.
Portanto a programação moderna é aquela na qual só há um modo de fazer as coisas. Ao menos, só um modo esperado de fazer, e se você propõe alternativas pode se tornar mal quisto em grupos que aderem a essa forma de pensar.
É por isso que de certa maneira eu tenho a percepção de Perl como uma linguagem humanista, uma linguagem que te permite se expressar artisticamente, ainda que o resultado não seja o que os outros esperam.
Como diz Wall no texto, o foco da pós-modernidade está no autor, não na obra, o que não quer dizer que a obra não seja importante. Apenas quer dizer que o valor da obra está no modo como o autor escolhe se expressar.
Eu costumava dizer que a escolha de uma linguagem de programação para uso em algum projeto deveria ser guiada pelo tipo de problema a ser resolvido. Ainda acredito nesse fator, mas hoje penso haver um segundo fator até mais importante: a relação que você enquanto programador desenvolve com a linguagem.
Ou seja, mais importante que a tecnologia em si, que é igual para todos, é o modo como você percebe essa tecnologia e pensa o que pode fazer dela. Isso é único e pessoal, e é o ponto de partida para a escolha a ser feita.
Em resumo, vivemos um período curioso no qual temos um embate entre as duas formas de pensar, e isto é paradoxal pois uma se coloca como "a única que pode existir" e outra como a que pode coexistir até mesmo com a única que pode existir.